PF prende 10 em operação contra fraude milionária em contratos para alimentação de presos em Roraima

PF prende 10 em operação contra fraude milionária em contratos para alimentação de presos em Roraima

Boa Vista, RR - A Polícia Federal prendeu 10 pessoas na manhã desta quinta-feira (29) durante a operação Escuridão que investiga um desvio de recursos públicos do sistema penitenciário de Roraima em contratos fraudulentos que somam R$ 70 milhões.

Entre os presos estão Guilherme Campos, filho da governadora Suely Campos (PP), detido em Brasília, e dois ex-secretários de Justiça e Cidadania, Ronan Marinho e Josué Filho, em Boa Vista. O deputado estadual eleito Renan Filho (PRB), suspeito de ligação com o esquema e também alvo de mandado de prisão, está foragido.

Para a operação, iniciada às 6h (8h de Brasília) foram expedidos 11 mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão em Boa Vistae Brasília. As medidas foram autorizadas pelo Tribunal de Justiça de Roraima. O G1 tenta contato com as defesas dos envolvidos na operação.

Nas buscas foram apreendidos carros de luxo, computadores, celulares, documentos e dinheiro. Os envolvidos estão sendo levados à sede da PF onde serão ouvidos e indiciados pelos crimes lavagem de dinheiro, organização criminosa, fraude licitatória e peculato.

Policiais federais foram à casa da governadora Suely Campos (PP) — Foto: Marcelo Marques/G1 RR

Logo no início da operação, a PF foi à casa da governadora no Centro da capital, onde cumpriu mandado de busca e apreensão. Ela, no entanto, não é investigada na ação. Policiais também foram à sede da empresa Qualigourmet, firma que cuida da alimentação no sistema prisional e é alvo da operação.

Joaquim Neto, advogado da empresa Qualigourmet, informou que a firma só deve se manifestar quando tomar conhecimento do teor das investigações.

De acordo com a PF, o esquema de desvio de dinheiro aconteceu entre 2015 e 2017. A fraude foi descoberta após um inquérito, instaurado no ano passado, apurar irregularidades em contratos de fornecimento de alimentação para presídios em Roraima.

Esquema de superfaturamento

O esquema teve início no começo de 2015, com a contratação emergencial da empresa Qualigourmet, constituída 8 dias antes para cuidar da alimentação dos presos no estado. Em 2018, a mesma empresa suspendeu entrega de comida aos detentos alegando dívidas do governo.

As investigações mostram que a empresa, responsável pelos fornecimentos desde 26 de fevereiro de 2015 até hoje, superfaturava o valor da alimentação, além de informar quantitativo superior de refeições ao que era efetivamente providenciado e de fornecer alimentos de baixa qualidade. O esquema já foi alvo de outra operação da PF e de investigação em CPI na Assembleia Legislativa.

Os responsáveis pela empresa, que está em nome de laranjas e teria o filho da governadora como verdadeiro dono, realizaram saques de aproximadamente 30% do valor dos contratos, em espécie, para o pagamento de propinas e para o enriquecimento ilícito dos reais proprietários do negócio.

Vários saques e repasses foram constatados pela PF através de filmagens feitas durante as investigações, a qual contou também com provas obtidas após quebra do sigilo bancário e telefônico dos investigados.

Escuridão faz referência à nona praga bíblica do Egito, que veio após aos Gafanhotos - nome do maior escândalo de corrupção investigado em Roraima - na qual o povo foi colocado sob trevas em razão das ações do Faraó.

A operação acontece depois da União assumir a gestão do sistema prisional de Roraima, e fazer uma intervenção na Peniteniciária Agrícola de Monte Cristo, unidade dominada pelo crime organizado, de onde partiram ordens para uma série de atentados a delegacia e órgãos públicos entre 29 e 30 de julho deste ano.