ONU suspende envio de comboios humanitários à Síria

 A ONU suspendeu nesta terça-feira o envio de seus comboios humanitários à Síria após o bombardeio na véspera de um deles, em meio à retomada dos combates no país com o fim da trégua.

"Todos os comboios foram suspensos à espera de uma nova avaliação da situação em matéria de segurança" na Síria, anunciou o porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês), Jens Laerke, em Genebra.

O ataque aéreo contra o comboio humanitário causou a morte de vinte pessoas, todas elas civis, anunciou nesta terça-feira, em Genebra, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (FICV).

"Cerca de 20 civis e um membro do pessoal da Crescente Vermelho sírio morreram quando estavam descarregando caminhões com ajuda humanitária vital. Uma grande parte da carga foi destruída", indicou a FICR em um comunicado. O depósito do Crescente Vermelho sírio em Orum al Kubra também foi atingido pelo bombardeios.

Enquanto isso, após o fim da trégua, na segunda-feira, voltaram a ser ouvidos nesta terça bombardeios e disparos a partir de Aleppo até os arredores de Damasco.

Isso ocorre apenas uma semana depois de um frágil cessar-fogo nos principais fronts da guerra.

Em Aleppo, segunda cidade do país dividida entre os bairros rebeldes e pró-regime, houve "mais de 40 bombardeios" contra zonas insurgentes desde o anúncio na segunda-feira pelo exército sírio do fim do cessar-fogo.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ao menos 36 civis morreram em ataques em Aleppo e na província desde o fim da trégua.

Muitos moradores passaram a noite trancados em seus apartamentos, após uma semana na qual aproveitaram o fato de poder sair às ruas.

Na manhã desta terça-feira, de forma intermitente, eram ouvidos fortes disparos na cidade de Aleppo.

Quem bombardeou o comboio

Foi nesta província de Aleppo em que houve o bombardeio, na noite de segunda-feira, do comboio de ajuda humanitária para as zonas cercadas.

O bombardeio danificou ao menos 18 caminhões de ajuda humanitária que formavam parte de um comboio de 31 veículos da ONU e do Crescente Vermelho sírio.

O mais triste, como ressaltou o emissário especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, "é que o comboio era resultado de um longo processo para a obtenção de vistos".

O OSDH - que mantém uma ampla rede de informação na Síria - não pôde informar de qual nacionalidade eram os aviões que bombardearam o comboio. Nenhum grupo rebelde possui uma força aérea.

"Se ficar demonstrado que este ataque impiedoso teve como alvo deliberado" um comboio humanitário, "então isso equivale a um crime de guerra", declarou Stephen O'Brien, chefe das operações humanitárias da ONU.

Sem acusar diretamente Moscou, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, disse que os "Estados Unidos estão chocados" com a atitude da Rússia, aliada do regime de Damasco.

"O regime sírio e a Federação Russa conheciam o destino deste comboio", disse Kirby.

Por sua vez, o Kremlin anunciou nesta terça-feira que o exército russo investiga as circunstâncias do bombardeio contra o comboio humanitário, ocorrido após o fim da trégua.

O ministério da Defesa russo, por sua vez, afirmou que nem a aviação russa nem a síria são autoras do bombardeio contra o comboio.

Tensões EUA-Rússia

A trégua apoiada por Rússia e Estados Unidos tinha por objetivo colocar fim a um conflito no qual mais de 300.000 pessoas morreram desde 2011.

Este cessar-fogo entre o exército e os rebeldes na Síria só poderá ser retomado se "os terroristas" interromperem seus ataques contra as forças de Bashar al-Assad, afirmou nesta terça-feira o Kremlin, aliado do regime sírio.

A tensão aumentou de forma incessante entre Moscou e Washington - que apoia os rebeldes - sobretudo após o bombardeio por "engano" realizado no sábado pela coalizão que os Estados Unidos lideram contra o exército sírio, que deixou ao menos 90 mortos.

Neste clima tenso, se encontra nesta terça-feira em Nova York, à margem da Assembleia Geral da ONU, o Grupo Internacional de Apoio à Síria (GISS), que reúne desde novembro de 2015 vinte países e organizações internacionais, entre eles Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Turquia e Irã.